A Censura (Tempos de Escuridão..)
Em meados dos anos 80, seguidores do líder político Luis Carlos Prestes denunciavam que o fascismo, implantado no mundo ocidental desde a vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial em 1945, tinha adquirido formas diferentes e estava instaurado no país. E, apesar de toda a propaganda da Nova República, a Era Sarney - a chamada redemocratização, não conseguia acabar com todo o aparelhamento fascista da Ditadura Militar. Os mecanismos de tortura, nas prisões, continuavam existindo.

Taiguara foi perseguido pela censura por boa parte de sua carreira, mas nenhum de seus trabalhos foram tão problemáticos quanto o Imyra, Tayra, Ipy – Taiguara. Em 1975, do auto-exílio e sua volta ao país, depois de ver totalmente censurado um disco gravado em Londres (“Let the children hear the music” -Tradução: Deixem as crianças escutar a[s] música[s]), com apenas duas faixas em português, "Porto de Vitória" e "Terra das Palmeiras", e com as demais faixas em inglês, Taiguara, apesar de toda a censura imposta, preparou uma forma criativa de enfrentar a Ditadura Militar Brasileira. Criou uma obra de arte, que denunciava o fascismo em nosso solo e em toda a América Latina e que driblava a censura usando pseudônimos na autoria de algumas faixas e o nome de sua esposa na época, Gheisa Chalar da Silva, como autora das três canções consideradas mais controversas: Terra das Palmeiras, Situação e Público. Taiguara, na forma de um índio brasileiro e latino americano, como uma árvore em Quarup, preparava seu retorno para o grande público.
O disco Imyra, Tayra, Ipy, Taiguara tinha essa finalidade. Do Delírio Transatlântico até a acumulação capitalista, em "Outra Cena", a obra denunciava que apesar das guerrilhas e do combate às ditaduras militares em toda América Latina, o quadro seria o mesmo: o de Picasso, uma Guernica Latino Americana, onde irmão enfrentava irmão reforçando as ditaduras fascistas, como a implantada na Espanha, após intensa Guerra Civil.
Mas a obra-prima de Taiguara foi censurada e recolhida. O espetáculo marcado para o dia 1º de Maio de 1976, nas ruinas das Missões no Rio Grande do sul, foi cancelado apenas 24 horas anteriores à realização. Esses fatos demonstravam que o artista estava quase perto de conseguir realizar o seu sonho.

Em 2002, a surpresa... O disco Imyra, Tayra, Ipy, Taiguara é remasterizado e editado em CD e colocado à venda no Japão. O boato da perda da matriz se desfaz. Aumenta-se a indignação. O disco continua a ser, de certo modo censurado, pois permanece, após quase três décadas, fora do alcance do povo Brasileiro.
Entre 2004 e 2005, o Brasil ganha uma briga na OMC - Organização Mundial do Comércio, pela ‘patente’ do "Cupuaçu", uma fruta tipicamente do nosso país, herança de nossos irmãos indígenas brasileiros, pretendida pelo mesmo país asiático.
E a obra-prima feita pela alma de um artista para o seu povo, Brasileiro e Latino Americano, continua sendo censurada. Mas o caminho da censura fascista fica claro: primeiro por uma ditadura militar, depois por uma multinacional, e no Século 21 por uma Corporação Transnacional. É a própria transformação e mudança de forma da propriedade privada.

"(...)Em "Imyra, tayra, ipy, Taiguara", a bossa nova está presente, por exemplo, na emocionante "Terra das Palmeiras", na qual Hermeto cita (ou é impressão?) "A Marselhesa". A letra não deixa margem a dúvidas: "Sonhada terra das palmeiras/ Onde andará teu sabiá?/ Terá ferido alguma asa? Terá parado de cantar?/ (...) Ah, minha amada amordaçada/ De amor forçado a se calar" (...)"
Arthur Dapieve