Letras

O próprio Taiguara, sozinho ao piano, na última música, “Outra Cena”, alerta para o conteúdo ambivalente das letras (“só não entendeu quem não quis”). Em metáforas românticas, o compositor sonha com a unidade latino-americana (“Como em Guernica”), com o fim da censura (“Terra das Palmeiras”), com a revolução (“Sete Cenas de Imyra”) e o fim da ditadura (“Situação” e “Aquarela de um País na Lua”, uma agressão modal ao ufanismo de Ary Barroso).
Thomas Pappon

Lado A - Tempos, solos e arrajos

1 - Pianice (Pecinha Sinfônica)- 1’28

Instrumental. Piano-solo e arranjo para orquestra sinfônica de Taiguara

2 - Delírio Transatlântico e chegada no Rio - 0’36

Instrumental. Órgão: Taiguara, efeitos: Nivaldo Duarte

3 - PÚBLICO - 4’45

Arranjo e piano: Taiguara, flauta-solo: Hermeto Paschoal, flauta-escrita: Nivaldo Ornellas, violão-solo: Toninho Horta, trompas: Pirolito, Svab, Ary e Toninho

Eles querem lotar o Maracanã
E precisam de mim - lá vou eu
Eles querem lotar o Maracanã
E precisam de mim, lá vou eu

Eles querem que eu sue ao sol da manhã
Eles querem da ovelha a mais pura lã
Para a futura clã da bola campeã
Que hoje é alemã
Quem sabe amanhã

Eles querem lotar o Maracanã
E precisam de mim, lá vou/vai eu
E eles querem lotar o Maracanã
E precisam de mim, lá vou eu

O meu nome era povo - hoje é multidão
Meu problema era o campo - hoje é nutrição
A viola era o sonho, hoje é ilusão
Tem mais nada não
Tem mais nada não

Eles querem lotar o Maracanã
E precisam de mim, lá vou eu
Eles querem lotar o Maracanã

4 - Terra das Palmeiras - 4’51

Arranjo: Hermeto Paschoal, percussão: Zé Eduardo, Paulinho Braga, Trompas

Sonhada terra das palmeiras
Onde andará teu sabiá?
Terá ferida alguma asa?
Terá parado de cantar?

Sonhada terra das palmeiras
Como me dói meu coração
Como me mata o teu silêncio
Como estás só na escuridão

Ah! Minha amada amordaçada
De amor forçado a se calar
Meu peito guarda o sangue em pranto
Que ainda por ti, vou derramar

Ah! Minha amada amortalhada
Das mãos do mal vou te tirar
P'ra dançar danças de outras terras
E em outras línguas te acordar

5 - COMO EM GUERNICA - 3’31

Arranjo e piano: Taiguara, baixo acústico: Novelli, percussão: Paulinho Braga, Zé Eduardo, harpa: Lúcia Morelembaun

Ay, Hermano
Qué hasta que el día ese llegue
Yo no descanse y no duerma
Sin haber hecho muchas canciones

Ay, Hermana
Qué hasta que el día ese llegue
Tu no te canses, no mueras
Sin callar todas las represiones

Madre y abuela Vasconia
Vieja Vasconia en tus siglos
Arden los cuerpos de aquellos
Que abren mis ojos para mi pueblo

Madre y abuela Vasconia
Mi pueblo mezcla mil mares
Mi nombre indígena es rojo
Mi lengua es blanca, mi canto es negro

Madre y abuela Vasconia
Somos de América el sueño
Niños, caminos sin crimes
Pero sin dueños, y sin arreglos...

Madre y abuela Vasconia
Como en Guernica, tu árbol
Que acá no muera el motivo
Se abren los labios, aún que con miedo

6 - A VOLTA DO PÁSSARO AMERÍNDI - 4’18

Instrumental - Arranjo, piano, voz, e sintetizador-solo: Taiguara, cello-solo e efeitos: Jaquinho Morelembaun, harpa-solo: Lúcia Morelembaun, flauta (mellotron): Taiguara, bateria e percussão: Zé Eduardo

7 - LUANDA, VIOLETA AFRICANA - 1’21

Instrumental - Piano, flauta (mellotron) e órgão: Taiguara

8 - AQUARELA DE UM PAÍS NA LUA- 3’40

Arranjo / Flauta baixo-solo: Hermeto Paschoal / piano solos: Taiguara / Sax –tenor solo: Nivaldo Ornellas / idéia de base: Taiguara, Novelli, Toninho Horta / Coro: Lucinha, Eva, Marisinha, Mlu, Novelli, Wagner, Nivaldo

Essa rosa branca
É de todas as cores
É um portão aberto
É uma criança livre
É uma semibreve
É Brasília nua
É um cristal de luz
É um país...

Essa rosa branca
É de todas as cores
É um punhal de neve
É um canhão de vidro
É um colchão de nuvem
Numa cela acesa
É meu pé na terra
É meu pão na mesa
Na mesa, na mesa... Se abren los labios, aún que con miedo

9 - SITUAÇÃO- 3’52

Arranjo e Solo de Flauta: Hermeto Paschoal / Sax Soprano e Tenor: Nivaldo Ornellas

Não, não adianta não
A situação já está fora das suas mãos
Nao, não adianta não

Não, não adianta não
A situação já esta fora das suas mãos
Não, não adianta não

Como é que você vai me dar
o que já é meu
Como é que você vai criar
o que já nasceu

Como é que você resolveu
que eu sou livre, Agora você esqueceu
Que só quem pode me libertar
sou eu
Voce diz que esse é o tempo
da vida se distender
Mas quem faz primavera é o inverno
nao é você

Volta sempre um momento na história
em que mais um império deixou de ser
Pois assim é o futuro p'ra nos
Só o que você vai mesmo fazer

É sair ou deixar eu me abrir
e deixar tudo acontecer
É sair ou deixar eu me abrir
e deixar tudo acontecer

10 - SETE CENAS DE IMYRA- 4’45

Arranjo e Piano Solo: Taiguara / Violino (Spalla): Giancarlo Pareschi / Flauta Solo: Nivaldo Ornellas / Cello – Solo: Jacquinho Morelembaun / Efeitos Toninho do Som

Imyra, Tayra, Ipy
Primeira cena: o nascer
Do beijo de Ara rendy
Jemopotyr - florecer

É gema, é germe, é gen-luz
Imyra brilha no ar
Corou vermelho e azul
Por sobre o virgem rosar
É rosa gente, é razão
É rosa umbilical
Jukira, sal, criação
Potyra, flor-animal

Imyra, Tayra, Ipy
Segunda cena: crescer
Ferir o espaço e abrir
A flor primal de mulher

Figura, cor, rotação
Calor, janela, pombal
Palmeira, morro, capim
Moreno, ponte, areal
Retina, boca, prazer
Compasso, ventre, casal
Descanso, livre lazer
Loucura, vida real

Imyra, Tayra, Ipy
Terceira cena: saber
Que o índio que vive em ti
É o lado mago em teu ser

Se vim dos Camaiurá
Ou das missões, guarani
Nasci pr'a ti meu lugar
Nação doente, Tupi
Por isso vou me curar
Da algema dentro de mim
Por isso vou encontrar
A gema dentro de mim

Imyra, Tayra, Ipy
A quarta cena é mostrar
O que há de pedra no chão
O que há de podre no ar

Criança em frente ao pilar
Imaginando seu mar
O mastro imenso, o navio
A vela, o vento, o assobio
É caravela, é alto-mar
Até de novo acordar
Pr'o que há de podre no chão
Pr'o que há de pedra no ar

Imyra, Tayra, Ipy
A quinta cena é sofrer
Cunhã curvada a chorar
Tayra tensa a temer

Fui companheira dos sós
Fui protetora das leis
Fui braço amigo de avós
Até o rei perdoei
Hoje faminta sou ré
Como um cachorro vadio
Arrasto inchado o meu pé
Por chãos de fogo e de frio

Imyra, Tayra, Ipy
A sexta cena é esperar
No céu branqueia Jacy
Tatá verdeja no mar

Vislumbre claro, visão
Valei-me, meu pai! Que luz!
Como se um trecho de chão
Se erguesse em asas azuis
Dobrando a curva do céu
Pr'a mergulhar sobre o mal
E o justo império de Ipy
Chegasse ao mundo, afinal!

Imyra, Tayra, Ipy
A cena sete é um saci
Pé dentro do ano dois mil
No centro - sol do Brasil
Aos sete dias do mês
Um dia azul de leão
Me deram vida vocês
Dou vida hoje à expressão
Quero essa língua outra vez
Quero esse palco, esse chão
Brinca Tupi-português
Dentro do meu coração

11 - TRÊS PONTAS- 3’42

Arranjos e Efeitos: Hermeto Paschoal / Percussão: Paulinho Braga, Zé Eduardo, Gegê / Bateria e Idéia Rítmica: Paulinho Braga / Piano Solo: Taiguara / Violão: Toninho Horta

Anda, vem depressa
Vem correndo na estacão
P'ra ver o trem chegar

É dia de festa
A cidade se enfeita
Para ver o trem

Quem é bravo fica manso
Quem é triste se alegra
E olha o trem

Velho, moço e criança
Todo mundo vem correndo
para ver, rever

Gente que partiu
Pensando um dia em voltar
Enfim voltou no trem

E voltou contando histórias
De uma terra
Tão distante do mar

Vem trazendo esperança
Para quem quer
Nessa terra se encontrar
Do trem

Gente se abraçando
Gente rindo
Alegria que chegou
Do trem, no trem, do trem...

12 - SAMBA DAS CINCO- 2’45

Arranjo e Direção de Base: Hermeto Paschoal / Piano Solo: Taiguara / Sax-Soprano: Nivaldo Ornellas / Cuíca: Zé Eduardo

Sou carioca
Se não é da gema do ovo
É do umbigo da cuíca

Frio me maltrata
Me bota no sol
Me derrete debaixo dessa bica

Luva, te mata
Não dá prá desabotoar
Nem descascar mexerica

Fogo da raça
Me queima que o samba é melhor
Quando o couro se esturrica

O tempo passa
E nem o tecido
Da Casa Pernambucana fica

E o tempo passa
E nem o tecido
Da Casa Pernambucana fica

Sou carioca
Se não é da gema do ovo
É do umbigo da cuíca
Santa Tereza...

13 - PRIMEIRA BATERIA- 2’48

Arranjo: Hermeto Paschoal / Bandoneon – Solo: Ubirajara Silva / Cavaquinho : Néco / Piano: Taiguara

Primeira bateria
Vira, vira, vira
Vira, vira, vira...
Virou

Acaba com essa cana
Acaba com essa cana
Acaba com essa cana...
Acabou

Ah! Meus votos
Ah! Meus votos
Ah! Meus votos
De felicidade vai ser

Ah! Folia
Ah! Folia
Ah! Folia
Vai amanhecer no jardim

Primeira bateria
Vira, vira, vira
Vira, vira, vira...
Virou

Acaba com essa cana
Acaba com essa cana
Acaba com essa cana...
Acabou

Liberdade
Liberdade
Liberdade
Quero até morrer com você

Companheiro
Companheiro
Companheiro
Dá teu braço e vamos virar

Primeira bateria
Vira, vira, vira
Vira, vira, vira...
Virou

Acaba com essa cana
Acaba com essa cana
Acaba com essa cana...
Acabou

Vira, Vira
Vira, vira...

14 - OUTRA CENA- 1’09

Piano: Taiguara

O santo, a seca, o sertão
O filho morto nas mãos
Família, fome, facão
A gana, o gado, o ladrão

O pó, o podre, o país
A madre, o medo, a matriz
Só não sofreu quem não viu
Não entendeu quem não quis...

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